quinta-feira, 30 de junho de 2016

O TAROT E A CABALA - refletindo sobre O Louco / o Regresso


ARCANO XXII O REGRESSO Coroa da Vida.
Diz o “Apocalipse”: «Sê fiel até à morte e Eu te darei a Coroa da Vida».
As pessoas crêem que o “Caminho da Realização” A Gnosis Primitiva ensina três etapas pelas quais tem que passar todo aquele que trabalha na Forja Acesa de Vulcano: Purificação – Iluminação – Perfeição. 
A primeira faculdade que desenvolve o candidato é o grau de “Ouvinte”, a Clariaudiência, o ouvido oculto.
Aprendiz trilha aproximadamente 7 ano até que se inicie o processo de  a Iluminação.

Letra hebréia Aleph 
Value A (1)  
Significado  Touro cabalístico 
Aspecto da consciência Cultural  
Poder Super-consciência 
Astrologia Urano 
Elemento Ar 
Associado à respiração 
cor amarelo pálido




A COROA DA VIDA 
O Íntimo não é a Coroa da Vida. Esta tem profundidades e está para além do “Íntimo”. A Coroa da Vida é o nosso resplandecente Dragão de Sabedoria, o Cristo Interno. 
 
AS TRÊS PROFUNDIDADES
   A primeira profundidade é a origem da vida. A segunda, é a origem da palavra. A terceira é a origem da força sexual. Estas três profundidades do resplandecente Dragão de Sabedoria estão para além do Íntimo. Este deve procurar-se dentro das ignotas profundezas de nós mesmos.

O NÚMERO VINTE E DOIS (22)
As três profundidades do resplandecente Dragão de Sabedoria emanaram do “ponto matemático”; este é o Ain Soph, a “estrela atLómica interior que sempre nos tem sorrido”. A Santa Trindade emanou dessa Estrela Interior; as Três Profundidades regressarão e fundir-se-ão com essa Estrela Interior. O número 22, soma-se cabalisticamente do seguinte modo: 2 + 2 = 4.  O Santo Três emana da Estrela Interior. O “Três” mais a sua “Estrela Interior”, é o “Santo Quatro”, o misterioso Tetragrammaton; o Iod He Vau He. Compreenderemos agora porque o Arcano 22 é a Coroa da Vida. «Sê fiel até à morte e Eu te darei a Coroa da Vida».

HIROGLÍFICO 
O hieroglífico do Arcano 22 é a Coroa da Vida. Entre os quatro animais misteriosos da Alquimia Sexual e no meio da Coroa, vê-se a Verdade, representada por uma Mulher Desnuda, a qual tem na sua mão uma varinha, (o Sacerdote e a Sacerdotisa; a Alquimia Sexual). Somente trabalhando na “Forja Acesa de Vulcano”, podemos encarnar a “Verdade). 

A ARCA DA ALIANÇA 
A “Arca” tinha quatro querubins que se tocavam com as suas asas e se encontravam na atitude do homem e da mulher durante acto sexual. Dentro da “Arca” encontrava-se o Bastão florido de Aarão; a Taça ou Gomor, contendo o “Maná”; as Doze Tábuas da Lei e o “Maná” contido no “Gomor”; o número “Quatro” como resultado da adição do número 22.

A LOJA INTERIOR 
O primeiro dever de todo o gnóstico é assegurar-se de que a “Loja” está protegida.

No grau de “Aprendiz” concretiza-se a atenção de forma especial no Plano Astral. A “Loja Interna” deve ficar protegida; o corpo astral deve limpar-se das paixões animais e de toda a classe de desejos.

No segundo grau, A Loja Mental deve ficar protegida; os pensamentos terrenos devem ser arrojados fora do “Templo”. Na prática podemos observar que estudantes aparentemente muito sérios; quando se descuidaram, quando não souberam proteger a sua “Loja Interna”, foram invadidos por gente e doutrinas estranhas; muitas vezes continuaram a trabalhar na Forja Acesa de Vulcano, mas misturando métodos e sistemas tão distintos, que o resultado de tudo isso foi então uma verdadeira Babel, uma confusão bárbara que somente serviu para trazer a desordem à “Loja Interior” da Consciência . É necessário ter a “Loja Interior em perfeita ordem; a autentica Escola de Autoeducação Íntima. Estamos absolutamente convencidos de que somente existe uma só porta e um só caminho: na compreensão de nossa sexualidade e do êxtase da vida.




quinta-feira, 16 de junho de 2016

VII O CARRO por Eliphas Levi Crowlei e Paul Foster





VII O CARRO - A CHETH - A CRIANÇA DOS PODERES DAS ÁGUAS, O SENHOR DO TRIUNFO DA LUZ
Árvore da Vida: Caminho de Binah à Geburah
Letra hebraica: Cheth (j) - Cerca, RECIPIENTE
Cabala: estar receptivo à vontade divina
Valor: 8
Signo: Câncer
Planeta: Lua
Elemento: Água
Personificação/Personagem Místico: Criança dos Poderes das Águas; Senhor do Triunfo da Luz







Dogmas e Rituais de Alta Magia
VII O CARRO por Eliphas Levi aspectos No volume Dogma
A Espada Flamejante
Netsah - Glaudius
O setenário é o número sagrado em todas as teogonias e em todos os símbolos, porque é composto do ternário e do quaternário. O número sete representa o poder mágico em toda a sua força; é o espírito protegido por tidas as potências elementares; é a alma servida pela natureza; é o sanctum regnum de que falam as Clavículas de Salomão, e que é representado, no Tarô, por um guerreiro coroado, trazendo um triângulo na sua couraça, e de pé, em cima de um cubo, ao qual estão atreladas duas esfinges, uma branca e outra preta, que puxam em sentido contrário e voltam a cabeça, olhando uma à outra. Este guerreiro está armado com uma espada flamejante, e tem, na outra mão, um cetro rematado por um triângulo e uma bola.
O cubo é a pedra filosofal. As esfinges são as duas forças do grande agente, correspondentes a Jakin e Bohas, que são as duas colunas do templo; a couraça é a ciência das coisas divinas, que faz o sábio invulnerável aos golpes humanos; o cetro é a baqueta mágica; a espada flamejante é o sinal da vitória sobre os vícios, que são em número de sete, como as virtudes; as idéias dessas virtudes e desses vícios eram figuradas, pelos antigos, pelos símbolos dos sete planetas então conhecidos.
Assim, a fé, esta aspiração ao infinito, esta nobre confiança em si mesmo, sustentada pela crença em todas as virtudes, a fé, que, nas naturezas fracas, pode degenerar em orgulho, era representada pelo Sol; a esperança, inimiga da avareza, pela Lua; caridade, oposta à luxúria, por Vênus, a brilhante estrela da manhã e da tarde; a força, superior à cólera, por Marte; a prudência, oposta à preguiça, por Mercúrio; a temperança, oposta à gula, por Saturno, a quem se dá uma pedra para comer ao invés de seus filhos; e a justiça, enfim, oposta à inveja, por Júpiter, vencedor dos Titãs. Tais são os símbolos
que a astrologia tira do culto helênico. Na Cabala dos Hebreus, o Sol representa o anjo de luz; a Lua, o anjo das aspirações e dos sonhos; Marte, o anjo exterminador; Vênus, o anjo dos amores; Mercúrio, o anjo civilizador; Júpiter, o anjo do poder; Saturno, o anjo das solidões. Chamam-nos também: Mikael, Gabriel, Samael, Anael, Rafael, Zacariel e Orifiel. Estas potências dominadoras das almas partilham a vida humana por períodos, que os astrólogos mediam sobre as revoluções dos planetas correspondentes.
Porém, não se deve confundir a astrologia cabalística com a astrologia judiciária. Explicaremos esta distinção. A infância é votada ao Sol, a adolescência à Lua, a juventude a Marte e Vênus, a virilidade a Mercúrio, a idade madura a Júpiter e a velhice a Saturno. Ora, a humanidade inteira vive sob leis de desenvolvimento análogas às da vida individual. É sobre esta base que Trithemo estabelece a sua clavícula profética dos sete espíritos de que falamos alhures, e por meio da qual se pode, seguindo as proporções analógicas dos acontecimentos sucessivos, predizer com certeza os grandes acontecimentos futuros, e fixar adiantadamente, de período em período, os destinos dos povos e do mundo.
São João, depositário da doutrina secreta do Cristo, consignou esta doutrina no livro cabalístico do Apocalipse, que ele representa fechado com sete selos. Acham-se aí os sete gênios das mitologias antigas, com as copas e espadas do Tarô. O dogma escondido sob estes emblemas é a pura Cabala, já perdida pelos fariseus, na época da volta do Salvador; os quadros que se sucedem nesta maravilhosa epopeia profética são tantos pantáculos que o ternário, o quaternário, o setenário e o duodenário são as chaves. As suas figuras hieroglíficas são análogas às do livro de Hermes ou da Gênese de Enoque, para nos servir de arriscado título que exprime somente a opinião pessoal do sábio Guilherme Postello.
O querubim ou touro simbólico que Moisés coloca à porta do mundo edênico, e que tem na mão uma espada flamejante, é uma esfinge, tendo um corpo de touro e uma cabeça humana; é a antiga esfinge assíria, de que o combate e a vitória de Mitra eram a análise hieroglífica. Esta esfinge armada representa a lei do mistério que vigia à porta da iniciação para desviar dela os profanos.
Voltaire, que nada sabia de tudo isso, riu muito de ver um boi armado de espada. Que teria ele dito
se tivesse visitado as ruínas de Mênfis e Tebas, e que teria a responder aos seus insignificantes sarcasmos, tão apreciados em França, este eco dos séculos, que dorme nos sepulcros de Psammético e Ramsés?
O querubim de Moisés representa também o grande mistério mágico, de que o setenário exprime todos os elementos, sem, todavia, dar a sua última palavra. Este verbum inenarrabile dos sábios da escola de Alexandria, esta palavra que os cabalistas hebreus escrevem h w h y e traduzem por a tyr a r a, exprimindo, assim, a triplicidade do princípio secundário, o dualismo dos meios e a unidade tanto do primeiro princípio como do fim, depois também a aliança do ternário com o quaternário numa palavra composta de quatro letras, que formam sete, por meio de uma tríplice e uma dupla repetição; esta palavra se pronuncia Ararita.
A virtude do setenário é absoluta em magia, porque o número é decisivo em todas as coisas; por isso, as religiões o consagraram nos seus ritos. O sétimo ano, entre os Judeus, era jubilar; o sétimo dia é consagrado ao repouso e à prece, há sete sacramentos, etc.
As sete cores do prisma, as sete notas da música, correspondem também aos sete planetas dos antigos, isto é, às sete cordas da lira humana. O céu espiritual nunca mudou, e a astrologia ficou mais invariável que a astronomia. Os sete planetas, com efeito, não são mais do que símbolos hieroglíficos dos laços de nossas afeições. Fazer talismãs do Sol, da Lua ou de Saturno, é prender magneticamente a vontade a signos que correspondem aos principais poderes da alma; consagrar alguma coisa a Vênus ou a Mercúrio é magnetizar esta coisa numa intenção direta, quer de prazer,
quer de ciência ou proveito. Os metais, animais, plantas ou perfumes análogos são, nisso, nossos auxiliares. Os animais mágicos são: entre os pássaros, correspondentes ao mundo divino, o cisne, a coruja, o gavião, a pomba, a cegonha, a águia e a poupa; entre os peixes, correspondentes ao mundo espiritual ou científico, a foca, o celerus, o lúcio, o timalo, o mugem, o delfim, e a siba; entre os quadrúpedes, correspondentes ao mundo natural, o leão, o gato, o lobo, o bode, o macaco, o veado e a toupeira. O sangue, a gordura, o fígado e o fel destes animais servem para os encantamentos; o seu cérebro se combina com os perfumes dos planetas, e é reconhecido, pela prática dos antigos, que possuem virtudes magnéticas correspondentes às sete influências planetárias.
Os talismãs dos sete espíritos se fazem, quer em pedras preciosas, tais como o carbúnculo, o cristal, o diamante, a esmeralda, a ágata, a safira e o ônix, quer nos metais, como o ouro, a prata, o ferro, o cobre, o mercúrio fixo, o estanho e o chumbo. Os símbolos cabalísticos dos sete espíritos são: para o Sol, uma serpente, com cabeça do leão; para a Lua, um globo ocupado por dois crescentes; para Marte, um dragão mordendo o cabo de uma espada; para Vênus, um lingam; para Mercúrio, o caduceu hermético e o cinocéfalo; para Júpiter, o pentagrama flamejante nas garras ou no bico de uma águia; para Saturno, um velho coxo uma serpente enlaçada ao redor da pedra helíaca. Todos estes signos se acham nas pedras gravadas dos antigos, e particularmente nos talismãs das épocas gnósticas, conhecidos sob o nome de Abraxas. Na coleção dos talismãs de Paracelso, Júpiter é
representado por um padre com hábito eclesiástico, e no Tarô é figurado por um grande hierofante vestido com a tiara de três diamantes, tendo na mão a cruz de três braços, formando o triângulo mágico e representando, ao mesmo tempo, o cetro e a chave dos três mundos.
Resumindo tudo o que dissemos da união do ternário e do quaternário, teremos tudo o que nos restaria a dizer do setenário, esta grande e completa unidade mágica, composta de 4 e 3.



VII O CARRO por Eliphas Levi aspectos No volume Rituais
  O SETENÁRIO DOS TALISMÃS
As cerimônias, as vestimentas, os perfumes, os caracteres e as figuras, sendo, como dissemos, necessários para empregar a imaginação na educação da vontade, o sucesso das obras mágicas depende da fiel observação de todos os ritos. Estes ritos, como dissemos, nada têm de fantástico ou arbitrário; eles nos foram transmitidos pela antiguidade e subsistem sempre pelas leis essenciais da realização analógica e da relação que existe necessariamente entre as ideias e as formas. Depois de ter passo vários anos a consultar e comparar todos os engrimanços e todos os rituais mágicos mais autênticos, chegamos, não sem trabalho, a reconstituir o cerimonial da magia universal e primitiva.
Os únicos livros sérios que vimos sobre esse assunto são manuscritos e traçados em caracteres de convenção, que deciframos com o auxílio da poligrafia de Trithemo; outros estão inteiramente nos hieróglifos e símbolos de que são ornados e disfarçam a verdade das suas imagens sob as ficções supersticiosas de um texto mistificador. Tal é, por exemplo, o Enchiridion do Papa Leão III, que nunca foi impresso com suas gravuras e que refizemos para nosso uso particular conforme um
antigo manuscrito.
Os rituais conhecidos sob o nome de Clavículas de Salomão existem em grande número. Vários foram impressos, outros foram copiados com grande cuidado. Existe um belo exemplar, muito elegantemente caligrafado, na Biblioteca Imperial; é ornado com pantáculos e caracteres que, na maior parte, se acham nos calendários  mágicos de Tycho- Brahe e de Duchenteaux.
Existem, enfim, clavículas e engrimanços impressos que são mistificações e especulações vergonhosas de baixa livraria. O livro tão conhecido e tão proibido pelos nossos pais, sob o nome de Pequeno Alberto, pertence, por um lado inteiro da sua redação, a esta última categoria e só tem de sério alguns cálculos tirados de Paracelso e algumas figuras de talismãs.
Quando se trata de realização e de ritual, Paracelso é, em magia, uma imponente autoridade. Ninguém realizou maiores obras do que as suas, e, por isso mesmo, ele esconde o poder das cerimônias, e ensina, somente na filosofia oculta, a existência do agente magnético da onipotência da vontade; resume também, toda a ciência dos caracteres em dois signos, que são as estrelas macro e microcósmicas. Era dizer bastante para os adeptos e importava não iniciar o vulgo. Paracelso não ensinava, pois, o ritual, mas o praticava e sua prática era uma sucessão de milagres.
Dissemos que importância tem, em magia, o ternário e o quaternário. Da sua reunião se compõe o grande número religioso e cabalístico que representa a síntese universal e que constitui o setenário sagrado.
O mundo, conforme a crença dos antigos, é governado por sete causas segundas, como as chama Trithemo: secundae, e são as forças universais designadas por Moisés são o nome plural de Elohim, os deuses. Estas forças, análogas e contrárias umas às outras, produzem o equilíbrio pelos seus contrastes e regulam o movimento das esferas. Os hebreus as chamam os sete grandes arcanjos e lhes dão os nomes de Mikael, Gabriel, Rafael, Anael, Samael, Zadkiel e Oriphiel. Os gnósticos cristãos chamam os quatro últimos: Uriel, Baraquiel, Sealtiel e Jehudiel. Os outros povos atribuíram a estes espíritos o governo dos sete planetas principais, e lhes deram os nomes das suas grandes divindades. 
Todos acreditaram na sua influência relativa, e a astronomia lhes dividiu o céu e lhes atribuiu sucessivamente o governo dos sete dias da semana.
Tal é a razão das diversas cerimônias da semana mágica e do culto setenário dos planetas.
Já observamos, aqui, que os planetas são signos, e não outra coisa; eles têm a influência que a fé universal lhes atribui, porque são mais realmente astros do espírito humano do que estrelas do céu.
O sol, que a magia antiga sempre considerou como fixo, só podia ser um planeta para o vulgo; por
isso, representa, na semana, o dia do descanso, que chamamos, não sei por que, Domingo, e que os
antigos chamavam dia do sol.
Os sete planetas mágicos correspondem às sete cores do prisma e às sete notas da oitava musical; representam também as sete virtudes e, por oposição, os sete vícios, da moral cristã.
Os sete sacramentos referem-se, igualmente, a este grande setenário. O batismo, que consagra o elemento da água, refere-se à Lua; a penitência rigorosa está sob os auspícios de Samael, o anjo de Marte; a confirmação, que dá o espírito de inteligência e comunica ao verdadeiro crente o Dom das línguas, está sob os auspícios de Rafael, o anjo de Mercúrio; a eucaristia substitui a realização sacramental de Deus feito homem, ao império de Júpiter; o casamento é consagrado pelo anjo Anael, o gênio purificador de Vênus; a extrema-unção é a salvaguarda dos doentes próximos a cair sob a foice de Saturno, e a ordem, que consagra o sacerdócio de luz, está mais especialmente marcada por caracteres do sol. Quase todas estas analogias foram notadas pelo sábio Dupuis, que concluiu, daí, a falsidade de todas as religiões, em vez de reconhecer a santidade e perpetuidade de
um dogma único, sempre reproduzido no simbolismo das sucessivas formas religiosas. Não entendeu a revelação permanente transmitida ao gênio do homem pelas harmonias da natureza, e só viu uma série de erros nesta cadeia de imagens engenhosas e eternas verdades.
As obras mágicas são também em número de sete:
1ª) obras de luz e riqueza, sob os auspícios do Sol;
2ª) obras de adivinhação e mistérios, sob a invocação da Lua;
3ª) obras de habilidade, ciência e eloqüência, sob a proteção de Mercúrio;
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4ª) obras de cólera e castigo, consagradas a Marte;
5ª) obras de amor, favorecidas por Vênus;
6ª) obras de ambição e política, sob os auspícios de Júpiter;
7ª) obras de maldição e morte, sob o patrimônio de Saturno.
No simbolismo teológico, o Sol representa o Verbo de Verdade; a Lua representa a própria religião;
Mercúrio, a interpretação e a ciência dos mistérios; Marte, a justiça; Vênus, a misericórdia e o amor;
Júpiter, o Salvador ressuscitado e glorioso; Saturno, Deus Pai, ou o Jeová de Moisés. No corpo
humano, o Sol é análogo ao coração, o Lua ao cérebro, Júpiter, à mão direita, Saturno, a mão
esquerda, Marte, ao pé esquerdo, Vênus, ao pé direito, Mercúrio, às partes sexuais, o que faz
representar, às vezes, o gênio deste planeta sob uma figura andrógina. Na face humana, o Sol
domina a fronte; Júpiter, no olho direito; Saturno no olho esquerdo; a Lua reina entre os dois olhos,
à raiz do nariz, de que Marte e Vênus governam as duas asas; Mercúrio, enfim, exerce sua
influência sobre a boca e o queixo.
Estas noções formavam, entre os antigos, a ciência oculta da fisionomia, descoberta, depois,
imperfeitamente por Lavater.
O mago que quer proceder às obras de luz, deve operar no Domingo, de meia-noite até oito horas da
manhã, ou das três horas da tarde até dez horas da noite. Estará vestido com uma roupa de púrpura,
com uma tiara e braceletes de ouro. O altar dos perfumes e a trípode do fogo sagrado serão rodeados
de grinaldas de loureiro, heliotrópios e girassóis: os perfumes serão o cinamomo, o incenso macho,
o açafrão e o sândalo vermelho; o anel será de ouro com um crisólito ou rubi; os tapetes serão de
peles de leões; os leques serão de penas de gavião.
Na segunda-feira, vestirá uma roupa branca ornada de fios de prata, com um tríplice colar de
pérolas, cristais e selenitas; a tiara será coberta de sede amarela, com caracteres de prata, formando,
em hebraico, o monograma de Gabriel, tal como o encontramos na filosofia oculta de Agrippa: os
perfumes serão sândalo branco, cânfora, âmbar, aloés e semente de pepino pulverizada; as grinaldas
serão de artemísia, selenotrópio e ranúnculo amarelo. Evitará as armações, os vestuários ou os
objetos de cor preta, e não poderá ter consigo outro metal a não ser a prata.
Na terça-feira, dia das operações de cólera, a roupa será cor de fogo, ferrugem ou sangue, com uma cintura e braceletes de aço; a tiara será circundada de ferro,e a pessoa não se servirá da baqueta, mas
somente do estilete mágico e da espada; as grinaldas serão de absinto e arruda, e terá no dedo um
anel de aço, com uma ametista por pedra preciosa.
Na quarta-feira, dia favorável à alta ciência, a roupa será verde, ou de um pano de reflexos de
diferentes cores; o colar será de pérolas de vidro oco, contendo mercúrio; os perfumes serão o
benjoim, a noz-moscada e o estoraque; as flores, o narciso, o lírio, a mercurial, a fumária e a
mangerona; a pedra preciosa será a ágata.
Na quinta-feira, dia das grandes obras religiosas e políticas, a roupa será escarlate, e a pessoa terá na
fronte uma lâmina de estanho com o caráter do espírito de Júpiter e estas três palavras: Giarar,
Bethor, Samgabiel; os perfumes serão o incenso, o âmbar pardo, o bálsamo, o grão de paraíso, a
noz-moscada e o açafrão; o anel será ornado de uma esmeralda ou safira; as grinaldas e coroas serão
de carvalho, álamo, figueira e romeira.
Na sexta-feira, dia das operações morosas, a roupa será de azul-marinho, as armações serão verdes e cor-de-rosa; os ornamentos, de cobre polido; as coroas serão de violetas; as grinaldas, de rosas,
mirtos e oliveiras; o anel será ornado de uma turquesa; o lápis-lazúli e o berilo servirão para a tiara e
os ornatos; os leques serão de penas de cisne, e o operador terá sobre o peito um talismã de cobre
com o caráter de Anael e estas palavras: Aveeva Vadelilith.
No sábado, dia das obras fúnebres, a roupa será preta ou escura, com caracteres bordados à seda de
cor alaranjada; a pessoa trará ao pescoço uma medalha de chumbo com o caráter de Saturno e estas
palavras: Almalec, Aphiel, Zarahiel; os perfumes serão o diagrídio, a escamônea, o alúmen, o
enxofre e a assa-fétida; o anel terá uma pedra de ônix; as grinaldas serão de freixo, cipreste e
heléboro preto; no ônix do anel será gravado, com a pinça consagrada e nas horas de Saturno, uma
dupla cabeça de Jano.
Tais são as antigas magnificências do culto secreto dos magos.
É com um semelhante aparelho que os grandes magos da Idade Média procediam à consagração cotidiana dos pantáculos e talismãs relativos aos sete gênios. Já dissemos que um pantáculo é um
caráter sintético que resume todo o dogma mágico numa destas concepções especiais. É, pois, a
verdadeira expressão de um pensamento e de uma vontade completa; é a assinatura de um espírito.
A consagração cerimonial deste signo une a ele, mais fortemente ainda, a intenção do operador, e estabelece entre ele e o pantáculo uma verdadeira cadeia magnética. Os pantáculos podem ser
indiferentemente traçados no pergaminho virgem, no papel ou nos metais.
É chamado talismã uma peça de metal, contendo quer pantáculos, quer caracteres, e tendo recebido
uma consagração especial para uma intenção determinada. Gaffarel, numa sábia obra sobre as
antiguidades mágicas, demonstrou, pela ciência, o poder real dos talismãs e a confiança na sua
virtude está, aliás, de tal modo na natureza, que de boa vontade conservamos a lembrança dos que
amamos, com a persuasão de que estas relíquias nos preservarão do perigo e deverão fazer-nos mais
felizes. Fazemos os talismãs com os sete metais cabalísticos, e gravamos neles, nos dias e horas
favoráveis, os sinais desejados e determinados. As figuras dos sete planetas, com seus quadrados
mágicos, se acham no Pequeno Alberto, conforme Paracelso, e é um dos raros lugares sérios deste
livro de magia vulgar. É preciso notar que Paracelso substitui a figura de Júpiter pela de um
sacerdote, substituição que não é sem uma intenção misteriosa bem determinada. Mas as figuras
alegóricas e mitológicas dos sete espíritos tornaram-se muito clássicas e vulgares nos nossos dias
para que possamos gravá-las com êxito nos talismãs; é preciso recorrer a signos mais sábios e mais
expressivos. O pentagrama deve ser sempre gravado num dos lados do talismã com um círculo para
o Sol, um crescente para a Lua, um caduceu alado para Mercúrio, uma espada para Marte, uma letra
G para Vênus, uma coroa para Júpiter e uma foicinha para Saturno. O outro lado do talismã deve
trazer i signo de Salomão, isto é, a estrela de seus raios feita de dois triângulos superpostos; e, no
centro, deve ser posta uma figura humana para os talismãs do Sol, um copo para os da Lua, uma
cabeça de cão para os de Mercúrio, uma cabeça de águia para os de Júpiter, uma cabeça de leão para
os de Marte, uma pomba para os de Vênus, uma cabeça de touro ou de bode para Saturno. A pessoa
ajuntar-lhes-á os nomes dos sete anjos, quer em hebraico em árabe ou em caracteres mágicos
semelhantes aos dos alfabetos de Trithemo.
Os dois triângulos de Salomão podem ser substituídos pela dupla cruz das rodas de Ezequiel, que
encontramos num grande número de pantáculos antigos, e que é, como fizemos observar no nosso
Dogma, a chave dos trigramas de Fo-Hi.
Podemos também empregar as pedras preciosas para os amuletos e talismãs; mas todos os objetos
deste gênero, quer sejam de metal, quer de pedras, devem ser envolvidos com cuidado em saquinhos
de seda da cor análoga ao espírito do planeta, perfumados com os perfumes do dia correspondente e
preservados de todos os olhares e contatos impuros.
Assim, os pantáculos e talismãs do Sol não devem ser vistos nem tocados pelas pessoas disformes
ou pelas mulheres de maus costumes; os da Lua são profanados pelos olhares e pelas mãos dos homens depravados e das mulheres que estão com regras; os de Mercúrio perdem a sua virtude se
forem vistos por padres assalariados; os de Marte devem ser ocultos aos poltrões; os de Vênus, aos
homens depravados e aos que fizeram votos de celibato; os de Júpiter, aos ímpios; e os de Saturno,
às virgens e crianças, não porque os olhares ou contatos destes últimos possam ser impuros, mas
porque o talismã lhes traria infelicidade e perderia, assim, toda a sua força.
As cruzes de honra e outras decorações deste gênero são verdadeiros talismãs, que aumentam o valor ou o mérito pessoal. As distribuições solenes que se fazem delas são as suas consagrações. A
opinião pública pode dar-lhes uma prodigiosa força. Não notaram muito a influência recíproca dos
sinais sobre as idéias e das idéias sobre os sinais; não é menos verdade que a obra revolucionária
inteira dos tempos modernos, por exemplo, foi resumida simbolicamente pela substituição
napoleônica da estrela de honra à cruz de São Luis. É o pentagrama substituído ao lábaro, é a
reabilitação do símbolo da luz, é a ressurreição maçônica de Adonhiram. Dizem que Napoleão
acreditava na sua estrela, e, se pudessem fazer-lhe dizer o que entendia por esta estrela, teriam
sabido que era o seu gênio: devia, pois, adotar por sinal o pentagrama, símbolo da soberania
humana pela iniciativa inteligente. O grande soldado de revolução sabia pouco: mas adivinhava
quase tudo; por isso, foi o maior mago instintivo e prático dos tempos modernos. O mundo ainda
está cheio dos seus milagres e o povo dos sertões nunca acreditará que ele tenha morrido.
Os objetos bentos e indulgenciados, tocados por santas imagens ou por pessoas veneráveis, os
rosários vindos da Palestina, os agnus Dei feitos de cera da vela de Páscoa, e os restos anuais do
santo crisma, os escapulários, as medalhas, são verdadeiros talismãs. Uma destas medalhas tornou
se popular atualmente e até os que não têm religião alguma colocam-na no peito dos filhos.
Também suas figuras são tão perfeitamente cabalísticas que esta medalha é verdadeiramente um
duplo e maravilhoso pantáculo. De um lado, vemos a grande iniciadora, a mãe celeste do Zohar, a
Ísis do Egito, a Vênus Urânia dos platônicos, sobre a Maria do cristianismo, de pé sobre o mundo e
pondo um pé sobre a cabeça da serpente mágica. Estende ambas as mãos de modo a fazerem um
triângulo cujo cimo é a cabeça da mulher; suas mãos estão abertas e irradiantes, o que faz delas um
duplo pentagrama, cujos raios se dirigem todos para a terra, o que representa, evidentemente, a
libertação da inteligência pelo trabalho. Do outro lado, vemos o duplo Tau dos hierofantes, o
Lingham de duplo Cteis ou de tríplice Phallus, suportado, com entrelaçamento e dupla inserção,
pelo M cabalístico e maçônico, que representa o esquadro entre as duas colunas Jakin e Bohas; em
cima, estão colocados, num mesmo nível, dois corações amantes e sofredores e, ao redor, doze
pentagramas. Todos vos dirão que os que trazem esta medalha não lhe atribuem esta significação;
ela, porém, não deixa de ser, por isso mesmo, mais perfeitamente mágica, tendo um duplo sentido,
e, por conseguinte, uma dupla virtude. A extática sobre cujas revelações este talismã foi gravado, o
tinha visto já existente e perfeito na luz astral, o que demonstra, mais uma vez, a íntima conexão das
idéias e dos sinais, e dá uma nova sanção ao simbolismo da magia universal.
Quanto mais pusermos importância e solenidade na confecção dos talismãs e pantáculos, tanto mais
adquirem virtude, como deve ser entendido conforme a evidência dos princípios que estabelecemos.
Esta consagração deve ser feita nos dias especiais que marcamos, como o aparato cujos detalhes
demos. A pessoa os consagra pelos quatro elementos exorcizados, depois de ter conjurado os
espíritos das trevas pela conjuração dos quatro; depois toma o pantáculo na sua mão e diz,
derramando nele algumas gotas de água lustral:
“In nomine Elohim et perspiritum aquárum vivéntium, sis mihi in signum lucis et sacraméntum
voluntátis”.
Aproximando-o da fumaça dos perfumes diz:
“Per serpéntum oenum sub quo serpéntes ignei, sis mihi, etc.”.
Soprando sete vezes no pantáculo ou no talismã, diz:
“Perfirmaméntum et spiritum vocis, sis mihi, etc.”.
Enfim, colocando nele triangularmente alguns grãos de terra purificada ou de sal, é preciso dizer:
“In sale térrae et per virtútem vitae aeternae, sis mihi, etc.”.
Depois, deve fazer a conjuração dos sete, do seguinte modo: lança-se alternativamente o fogo sagrado uma pastilha dos sete perfumes e se diz:
“Em nome de Mikael, que Jeová te mande e te afaste daqui, Chavajoth!”. “Em nome de Gabriel, que Adonai te mande e te afaste daqui, Belial!”.
“Em nome de Rafael, desaparece diante de Elchim, Sachabiel!”.
“Por Samael Zebaoth, e em nome de Elohim Ghibor, afasta-te Adrameleck!”.
“Por Zacariel e Sachiel Melek, obedece a Elvah, Samgabiel!”.
“Pelo nome divino e humano de Schaddai, e pelo signo do pentagrama que tenho em minha mão
direita, em nome do anjo Anael, pelo poder de Adão e Eva, que são Jotchavah, retira-te, Lilith;
deixa-nos em paz, Nahemah!”.
“Pelos santos Elohim e os nomes dos gênios Cassiel, Sehaltiel, Aphiel e Zarahiel, sob o mando, de
Oriphiel, afasta-te de nós, Moloch! Não te daremos nossos filhos devorares”.
No que diz respeito aos instrumentos mágicos, os principais são: a baqueta, a espada, a lâmpada, o
copo, o altar e a trípode. Nas operações da alta e divina magia, a pessoa serve-se da lâmpada, da
baqueta e do copo; nas obras de mais negra, substitui a baqueta pela espada e a lâmpada pela
candeia de Cardan. Explicaremos esta diferença no artigo especial da magia negra.
Voltemos à descrição e a consagração dos instrumentos.
A baqueta mágica, que não devemos confundir com a simples baqueta adivinhatória, nem com a
forquilha dos necromantes ou o tridente de Paracelso; a verdadeira e absoluta baqueta mágica deve ser de um único galho, perfeitamente direito, de amendoeira ou aveleira, cortado num só golpe com
a serpe mágica ou a foicinha de ouro, antes do levantar do sol e no momento em que a árvore está
próximo a florescer. É preciso perfurá-la em toda sua extensão, sem rachá-la ou quebrá-la, e
introduzir nela uma vara de ferro imantada que ocupe todo o seu comprimento; depois adaptar-se a
uma das suas extremidades um prisma poliedro, cortado triangularmente, e à outra ponta uma figura
semelhante de resina preta. No meio da baqueta, a pessoa colocará dois anéis, um de cobre
vermelho, e o outro de zinco; depois a baqueta será dourada do lado da resina e prateada do lado do
prisma até os anéis do meio, devendo ser coberta de seda, exclusivamente, até as extremidades. No
anel de cobre é preciso gravar estes caracteres: וּרישׂ מיל חשרקה e no anel de zinco: h m l c k l m h. A consagração da baqueta deve durar sete dias, começando na lua nova, e deve ser feita por um iniciado que possua os grandes arcanos e que tenha também uma baqueta consagrada. É a transmissão do sacerdócio mágico, e esta transmissão nunca cessou, desde as tenebrosas origens da alta ciência. A baqueta e os outros instrumentos, mas principalmente a baqueta, devem ser guardados com cuidado, e sob pretexto algum o magista deve deixar os profanos verem-nos ou tocá los; aliás, perderiam toda a sua virtude.
O modo de transmitindo da baqueta é um dos arcanos da ciência que nunca é permitido revelar.
 comprimento da baqueta mágica não deve exceder o do braço do operador. O mago só deve servir-se dela quando está só e até nem deve tocá-la sem necessidade. Diversos magos antigos faziam-na somente do comprimento do antebraço e a escondiam dentro de longas mangas, mostrando ao público somente a simples baqueta adivinhatória, ou algum cetro alegórico, feito de marfim ou ébano, conforme a natureza das obras.
O cardeal Richelieu, que ambicionava todos os poderes, procurou durante a sua vida inteira, sem poder encontrar, a transmissão da baqueta. O seu cabalista Gaffarel só lhe pôde dar a espada e os talismãs; este foi, talvez, o motivo secreto do seu ódio contra Urbano Grandier, que sabia alguma coisa das fraquezas do cardeal. As entrevistas secretas e prolongadas de Laubardemont com o infeliz padre, algumas horas antes de seu último suplício, e as palavras de um amigo e confidente deste, quando ia à morte: “Senhor, sois um homem hábil, não vos percais”, dão muito que pensar a este respeito.
A baqueta mágica é o Verendum do mago; nem mesmo deve falar dela de um modo claro e exato; ninguém deve vangloriar-se de possuí-la, e só deve ser transmitida a sua consagração sob as condições de uma discrição e uma confiança absolutas.
A espada é menos oculta, e eis como é preciso fazê-la: Deve ser se aço puro, com um punho de cobre, feito em forma de cruz com três gomos, como é representada no Enchiridion de Leão III, ou tendo por guarda dois crescentes, como a nossa figura.
No nó central da guarda, que deve ser revestido de uma placa de ouro, é preciso gravar, de um lado, o signo do macrocosmo e, do outro, o do microcosmo. No punho é preciso gravar o monograma hebraico de Mikael, tal como o vemos em Agrippa, e, na lâmina, de um lado, estes caracteres: h b m b y m h w h y f y l y a k e, do outro, o monograma do Lábaro de Constantino, seguido destas palavras: Vince in hoc, Deo duce, ferro comite. (Ver, para a autenticidade e exatidão destas figuras, as melhores edições antigas do Enchiridion).

A consagração da espada deve ser feita num domingo, às horas do Sol, sob a invocação de Mikael.
A pessoa porá a lâmina da espada num fogo de loureiro e cipreste; depois enxugará e polirá a lâmina com as cinzas do fogo sagrado, molhadas com o sangue de poupa ou de serpente e dirá: Sis mihi gládius Michaelis, in virtute Elohim Sabaoth, fúgiant a te spiritus tenebrárum et reptília terrae; depois a perfumará com os perfumes do Sol e a guardará na seda com ramos de verbena, que devem ser queimados no sétimo dia.
A lâmpada mágica deve ser feita de quatro metais: o ouro, a prata, o zinco e o ferro. O pé será de ferro, o nó de zinco, o copo de prata, o triângulo do meio de ouro. Ela terá dois braços compostos de três metais torcidos conjuntamente, de modo a deixar, contudo, um tríplice conduto para o óleo. Terá nove mechas, três no meio e três em cada braço (ver a figura). No pé, deve ser gravado o selo de Hermes e, em cima o Andrógino de duas cabeças de Khunrath. A moldura inferior do pé representará uma serpente que morde a cauda.
No copo ou recipiente do óleo deve ser gravado o signo de Salomão. A esta lâmpada se adaptarão
dois globos: um, ornado de pinturas transparentes, representando os sete gênios; o outro, maior e
duplo, podendo conter em quatro compartimentos, entre dois vidros, a água tingida de diversas
cores. Tudo será contido numa coluna de madeira que gire sobre si mesma e possa deixar escapar à
vontade os raios da lâmpada, que será dirigida para a fumaça do altar, no momento das invocações.
Esta lâmpada é de grande valor para ajudar as operações intuitivas das imaginações lentas e para
criar, diante das pessoas magnetizadas, formas de uma realidade espantosa, que, sendo
multiplicadas pelos espelhos, aumentarão imediatamente e mudarão numa só sala imensa e cheia de
almas visíveis o gabinete do operador; a embriaguez dos perfumes e a exaltação das invocações
transformarão logo esta fantasmagoria num sonho real; reconheceremos as pessoas que já nos foram
conhecidas; os fantasmas falarão; depois, se fecharmos a coluna da lâmpada, duplicando o fogo dos
perfumes, produzir-se-á alguma coisa extraordinária e inesperada.



O CARRO POR CROWLEY

VII. A CARRUAGEM 
O Atu VII se refere ao signo zodiacal  Câncer, o signo para dentro do qual o Sol se move no solstício de verão. ** 
** Note-se que Cheth  -  Cheth 8 -  Yod 10  -  Tau 400  totalizam o valor 418. Este é um dos números-chaves mais importantes de Liber AL. É o número da palavra do Aeon, ABRAHADABRA, a chave da Grande Obra ( ver  The Equinox of  the Gods, pg. ... e também The Temple of Solomon the King). Um volume completo poderia, e deveria, ser escrito tão-só acerca desta  palavra.  
Câncer é o signo cardeal do elemento água, ***e representa a primeira investida incisiva desse elemento. Câncer também representa o caminho que conduz da grande Mãe Binah a Geburah, sendo assim a influência das Superiores através do Véu da Água (que é sangue) sobre a energia do homem, assim inspirando-a. Corresponde, desta maneira, a O Hierofante, que do outro lado da Árvore da Vida, traz para baixo o fogo de Chokmah (ver diagrama).  
*** Daí o dia de São João Batista e os vários cerimoniais ligados à água.  
O desenho da carta aqui apresentada foi muito influenciado pelo trunfo retratado por Éliphas Lévi. O dossel da Carruagem é o azul de céu noturno de Binah. As colunas são as quatro colunas do universo, o regímen de Tetragrammaton. As rodas escarlates representam a energia original de Geburah produtora do movimento giratório.  
Essa carruagem é puxada por quatro esfinges compostas dos quatro Kerubs, o touro, o leão, a águia e o homem. Em cada esfinge estes elementos estão permutados, de maneira que o todo representa os dezesseis sub-elementos.  
O auriga está trajado com a armadura cor de âmbar apropriada ao signo. Está mais entronizado na carruagem do que o conduzindo porque todo o sistema de progressão é perfeitamente equilibrado. Sua única função é portar o Cálice Sagrado.  
Acima de sua armadura estão dez Estrelas de Assiah, a herança de rocio celestial de sua mãe.  
 68
Como cimeira do elmo ele tem o caranguejo apropriado ao signo. A viseira de seu elmo está abaixada pois nenhum homem pode olhar seu rosto e viver. Por razão idêntica, nenhuma parte de seu corpo está exposta.  
Câncer é a casa da Lua. Há assim certas analogias entre esta carta e a da Alta Sacerdotisa. Mas, também, Júpiter é exaltado em Câncer e neste caso lembra-se da carta chamada  Fortuna (Atu X) atribuída a Júpiter.  
O traço central e mais importante da carta é seu centro -  o Cálice Sagrado. É de ametista pura da cor de Júpiter, mas sua forma sugere a lua cheia e o Grande Mar de Binah.  
No centro do Cálice Sagrado está o sangue radiante, de que se infere a vida espiritual; luz nas trevas. Estes raios, ademais, giram, enfatizando o elemento jupiteriano no símbolo.  

sábado, 11 de junho de 2016

quinta-feira, 2 de junho de 2016

OS ENAMORADOS ASPECTOS DO DOGMA E RITUAL ELIPHAS LEVI E CROWLEY

5 - OS ENAMORADOS ASPECTOS DO DOGMA em ELIPHAS LEVI

 Selo de Salomão
O Equilíbrio Mágico
TIPHERETH - UNCUS
A inteligência suprema é necessariamente razoável. Deus, em filosofia, pode não ser mais do que
uma hipótese imposta pelo bom senso bom à razão humana. Personificar a razão absoluta é
determinar o ideal divino.
Necessidade, liberdade e razão, eis o grande do e supremo triângulo dos cabalistas, que chamam a
razão Kether, a necessidade Hocmah e a liberdade Binah, no seu primeiro ternário divino.
Fatalidade, vontade e poder, tal é o ternário mágico que, nas coisas humanas, corresponde ao
triângulo divino.
A fatalidade é o encadeamento inevitável dos efeitos e causas numa ordem, dada.
A vontade é a faculdade diretora das forças inteligentes para conciliar a liberdade das pessoas com a necessidade das coisas.
O poder é o sábio emprego da vontade, que faz servir a própria fatalidade à realização dos desejos
do sábio.
Quando Moisés fere a rocha, não cria a fonte de água; ele a revela ao povo, porque uma ciência
oculta lha revelou a ele próprio por meio da baqueta adivinhatória.
O mesmo acontece com todos os milagres da magia: existe uma lei, o vulgo a ignora, o iniciado
serve-se dela.
As leis ocultas são, muitas vezes, diametralmente opostas às leis comuns. Assim, por exemplo, o
vulgo crê na simpatia dos semelhantes e na guerra dos contrários; é a lei oposta que é verdadeira.
Diziam outrora: a natureza tem horror ao vácuo; era preciso dizer: a natureza é amante do vácuo, se
o vácuo não fosse, em física, a mais absurda das ficções.
O vulgo toma, habitualmente, em todas as coisas, a sombra pela realidade. Volta as costas à luz e se mira na obscuridade que projeta.
As forças da natureza estão à disposição daquele que lhes sabe resistir. Se sois tão senhor de vós
mesmo para nunca ficar bêbado, disponde do terrível e fatal poder do embebedamento. Se quiserdes
embebedar os outros, dai-lhes de beber à vontade, mas não bebais.
Dispõe do amor dos outros, quem é senhor do seu. Quereis possuir, não vos deis. O mundo está imantado da luz do sol, e estamos imantados da luz astral do mundo. O que se opera no corpo do
planeta se repete em nós. Há, em nós, três mundos análogos e hierárquicos, como na natureza
inteira.
O homem é o microcosmo ou pequeno mundo, e conforme o dogma das analogias, tudo o que está no grande mundo se reproduz no pequeno. Há, pois, em nós, três centros de atração e de projeção
fluídica: o cérebro, o coração ou o epigastro e o órgão genital. Cada um destes órgãos é único e duplo, isto é: nele se encontra a idéia do ternário. Cada um destes órgãos atrai de um lado e repele do outro. É por meio desses aparelhos que nós nos pomos em comunicação com o fluido universal, transmitido em nós pelo sistema nervoso. São Também estes três centros que são a sede da tríplice operação magnética, como explicaremos alhures.
Quando o mago chegou à lucidez, quer por intermédio de uma pitonisa ou sonâmbula, quer por seus
próprios esforços, comunica e dirige à vontade vibrações magnéticas em toda a massa da luz astral,
cujas correntes adivinha com o auxílio da baqueta mágica, que é uma baqueta adivinhatória
aperfeiçoada. Por meio destas vibrações, influi no sistema nervoso das pessoas submetidas à sua
ação, precipita ou suspende as correntes da vida, acalma ou atormenta, cura ou faz adoecer, mata,
enfim, ou ressuscita... Mas, aqui paramos, diante do sorriso da incredulidade. Deixemos-lhe o
triunfo fácil de negar o que não sabe.
Demonstraremos, mais tarde, que a morte é sempre precedida de um sono letárgico e só opera por
graus; que a ressurreição, em certos casos, é possível; que a letargia é uma morte real, mas não acabada, e que muitos mortos acabam de morrer depois do seu enterro. Mas não é disso que se trata
neste capítulo. Dizemos, pois, que uma vontade lúcida pode agir sobre a massa da luz astral, e, com
o concurso de outras vontades que absorve e arrasta, determinar grandes e irresistíveis correntes. Digamos também que a luz astral se condensa ou se rarifica, conforme as correntes a acumulam,
mais ou menos, em certos centros. Quando falta energia suficiente para alimentar a vida, causa
doenças de decomposição súbita, que fazem o desespero da medicina. O cólera-morbo, por
exemplo, não tem outra causa, e as colunas de animálculos observados os supostos por certos sábios
podem ser o efeito dele, antes que a causa. Era, pois, preciso tratar o cólera por insuflação, se, em tal tratamento, o operador não se expusesse a fazer com o paciente uma troca muito perigosa para o primeiro.
Todo esforço inteligente da vontade é uma projeção de fluido ou luz humana, e aqui importa
distinguir a luz humana da luz astral, e o magnetismo animal do magnetismo universal.
Servindo-nos da palavra fluido, empregamos uma expressão generalizada e procuramos fazer-nos
compreender por este meio; mas estamos longe de dizer que a luz latente seja um fluido. Tudo nos
levaria, pelo contrário, a preferir, na explicação deste ente fenomenal, o sistema das vibrações. Seja como for, esta luz, sendo o instrumento da vida, se fixa naturalmente em todos os centros vivos. Ela se prende ao centro dos planetas como ao coração do homem (e por coração entendemos, em magia,o grande simpático), mas se identifica à vida própria do ser que anima, e é por esta propriedade de assimilação simpática que ela se divide sem confusão. Assim, ela é terrestre nas suas relações com o globo da terra e exclusivamente humana nas suas relações com os homens.
É por isso que eletricidade, o calórico, a luz e a imantação produzidas pelos meios físicos
ordinários, não somente não produzem, mas, ao contrário, tendem a neutralizar os efeitos do magnetismo animal. A luz astral, subordinada a um mecanismo cego, e procedendo dos centros
dados de autotelia, é uma luz morta, e opera matematicamente, conforme os impulsos dados ou
conforme leis fatais; a luz humana, pelo contrário, só é fatal no ignorante que faz tentativas ao
acaso; no vidente, ela é subordinada à inteligência, submetida à imaginação e dependente da
vontade. É esta luz que, projetada sem cessar pela nossa vontade, forma o que Swedenborg chama
as atmosferas pessoais. O corpo absorve o que o rodeia e irradia sem cessar, projetando seus
miasmas e suas moléculas invisíveis; o mesmo acontece com o espírito, de modo que este
fenômeno, chamado por alguns místicos o respiro, tem realmente a influência que lhe é atribuída,
quer no físico, quer no moral. É realmente contagioso respirar o mesmo ar que os doentes, e achar
se no círculo de atração e expansão dos malvados.
Quando a atmosfera magnética de duas pessoas é de tal modo equilibrada que o atrativo de uma
aspira a expansão da outra, produz-se uma atração que se chama a simpatia; então, a imaginação,
evocando a ela todos os raios ou reflexos análogos ao que experimenta, se faz um poema de desejos que arrastam a vontade, e se as pessoas são de sexo diferente, produz-se nelas ou geralmente na mais fraca das duas um embebedamento completo de luz astral, que se chama a paixão
propriamente dita ou amor.
O amor é um dos grandes instrumentos do poder mágico; mas é formalmente interdito ao mago, ao
menos como embebedamento ou como paixão. Desgraçado do Sansão da Cabala, se deixar
adormecer por Dalila! O Hércules da ciência, que muda o seu cetro real contra o fuso de Omphale, sentirá logo as vinganças de Dejanira, e só lhe restará a fogueira do monte Eta para escapar ao
apertamento devorador da túnica de Nesso. O amor sexual é sempre uma ilusão, porque é o
resultado de uma miragem imaginária. A luz astral é o sedutor universal, figurado pela serpente do Gênese. Este agente sutil, sempre ativo, sempre luxuriante de seiva, sempre florido de sonhos sedutores e inebriantes imagens; esta força cega por si mesma e subordinada a todas as vontades,
quer para o bem, quer para o mal; este circulus sempre renascente de vida indômita que dá vertigem
aos imprudentes; este corpo ígneo; este éter impalpável e presente em toda parte; esta imensa esta
sedução da natureza, como defini-la inteiramente e como qualificar a sua ação? De algum modo indiferente por si mesma, ela serve para o bem como para o mal; ela leva a luz e propaga as trevas;
pode-se chamá-la igualmente Lúcifer e Lucífugo: é uma serpente, mas pode pertencer aos tormentos
do inferno como às oferendas de incenso prometidas ao céu. Para apoderar-se dela, é preciso, como
a mulher predestinada, pôr o pé sobre sua cabeça.
O que corresponde à mulher de cabalística, no mundo elementar, é a água, e o que corresponde à
serpente é o fogo. Para dominar a serpente, isto é, para dominar o círculo da luz astral, é preciso
chegar a pôr-se fora das suas correntes, isto é, isolar-se. É por isso que Apolônio de Thyana se
envolvia inteiramente num manto de lã fina, no qual punha os pés, e cuja ponta punha em cima da
cabeça; depois, arcava em semicírculo a sua coluna vertebral e fechava os olhos, após ter realizado
certos ritos de deviam ser passes magnéticos e palavras sacramentais, tem por fim fixar a
imaginação e determinar a ação da vontade. O manto de lã é de grande uso em magia, e é o veículo
ordinário dos feiticeiros que vão ao sabbat, o que prova que os feiticeiros não iam realmente ao
sabbat, mas sim que o sabbat vinha achar os feiticeiros isolados nos seus mantos e trazia ao seu
translúcido as imagens análogas às suas preocupações mágicas, misturadas com os reflexos de
todos os atos do mesmo gênero que se tinham realizado antes deles no mundo.
Esta corrente da vida universal é também figurada, nos dogmas religiosos, pelo fogo expiatório do
inferno. É o instrumento da iniciação, é o monstro a dominar, é o inimigo a vencer; é ela que envia
às nossas evocações e conjurações da goecia tantas larvas e fantasmas; é nela que se conservam
todas as formas cujo conjunto fantástico e fortuito povoa nossos pesadelos de tão abomináveis
monstros. Deixar-se arrastar para baixo por este rio que dá viravoltas é cair nos abismos da loucura, mais terríveis que os da morte: afastar as sombras deste caos e fazer-lhe dar formas perfeitas aos nossos pensamentos é ser homem de gênio, é criar, é ter triunfado do inferno!
A luz astral dirige os instintos animais e dá combate à inteligência do homem, que tende a perverter pelo luxo de seus reflexos e a mentira das suas imagens; ação fatal e necessária, que os espíritos elementares e as almas sofredoras dirigem e tornam mais funestas ainda, com suas vontades
inquietas, que procuram simpatias nas nossas fraquezas e nos tentam, menos para nos perder do que
para adquirir amigos.
Esse livro das consciências que, conforme o dogma cristão, deve ser manifestado no último dia, não
é outro senão a luz astral, na qual se conservam as impressões de todos os verbos, isto é, de todas as ações e de todas as formas. Os nossos atos modificam o nosso respiro magnético, de modo que um
vidente pode dizer, aproximando-se de uma pessoa pela primeira vez, se esta pessoa é inocente ou
culpada, e quais suas virtudes e seus crimes. Esta faculdade, que pertence à adivinhação, era
chamada, pelos místicos cristãos da Igreja primitiva, o discernimento dos espíritos.
As pessoas que renunciam ao império da razão e gostam de desviar sua vontade em perseguição dos
reflexos da luz astral, estão sujeitas a alternativas de furor e tristeza que fizeram imaginar todas as maravilhas da possessão do demônio; é verdade que, por meio destes reflexos, os espíritos impuros podem agir sobre tais almas, fazer delas instrumentos dóceis e mesmo habituar-se a atormentar o seu organismo, no qual vêm residir por obsessão ou embrionato. Estas palavras cabalísticas são
explicadas no livro hebreu da Revolução das Almas, de que nosso décimo terceiro capítulo conterá a
análise detalhada.
É, pois, extremamente perigoso divertir-se com os mistérios da magia; é, principalmente, temerário
praticar seus ritos por curiosidade, por ensaio e como que para tentar as forças superiores. Os curiosos que, sem serem adeptos, se preocupam de evocações ou magnetismo oculto, parecem
crianças que brincam com fogo perto de um barril de pólvora fulminante; serão, mais cedo ou mais
tarde, vítimas de alguma terrível explosão.
Para isolar-se da luz astral, não basta rodear-se de pano de lã; é preciso ainda, e principalmente, ter imposto uma quietação absoluta ao seu espírito e ao seu coração, ter saído do domínio das paixões e estar seguro na perseverança dos atos espontâneos de uma vontade inflexível. É preciso também reiterar muitas vezes os atos desta vontade, como veremos na nossa introdução Ritual, a vontade fica certa de si mesma só por atos, como as religiões só têm império e duração pelas suas
cerimônias e seus ritos.
Existem substâncias inebriantes que, exaltando a sensibilidade nervosa, aumentam o poder e por das
representações e, por conseguinte, das seduções astrais; pelos mesmos meios, mas seguindo uma direção contrária, pode-se amedrontar e perturbar os espíritos. Estas substâncias, magnéticas por si mesmas e magnetizadas ainda pelos práticos, são o que se chamam filtros ou beberagens
encantadas. Mas não trataremos desta perigosa aplicação da magia envenenadora. Não existem
mais, é verdade, fogueiras para os feiticeiros, mas há sempre, e mais do que nunca, castigos para os malfeitores. Limitemo-nos, pois, a constatar, na ocasião, a realidade deste poder.
Para dispor da luz astral é preciso também compreender a sua dupla vibração e conhecer a balança das forças, que se chama o equilíbrio mágico, e que, em Cabala, se exprime pelo senário.
Este equilíbrio, considerado na sua causa primeira, é a vontade de Deus; no homem, é a liberdade,
na matéria, é o equilíbrio matemático.
O equilíbrio produz a estabilidade e a duração.
A liberdade produz a imortalidade do homem, e a vontade de Deus põe em ação as leis da razão
eterna.
O equilíbrio é rigoroso. Se for observada a lei, ele existe; se for violada, por mais levemente que
seja, ele não existe mais.
É por isso que nada é inútil ou perdido. Toda palavra e todo movimento são pró ou contra o equilíbrio, pró ou contra a verdade; porque o equilíbrio representa a verdade, que se compõe de pró
e do contra conciliados, ou, ao menos, mutuamente equilibrados.
Dizemos, na introdução do Ritual, como o equilíbrio mágico deve ser produzido, e por que ele é
necessário para o sucesso em todas as operações.
A onipotência é a liberdade mais absoluta. Ora, a liberdade absoluta não poderia existir sem um
equilíbrio perfeito. O equilíbrio mágico é, pois, uma das condições primárias do sucesso nas
operações da ciência, e deve-se procurá-lo até na química oculta, aprendendo a combinar os
contrários sem os neutralizar um por outro.
É pelo equilíbrio que se explica o grande e antigo mistério da existência e da necessidade relativa do mal.
Esta necessidade relativa dá, em magia negra, a medida do poder dos demônios ou espíritos
impuros, aos quais as virtudes que são praticadas na terra dão mais furor, e, em aparência, até mais força.
Nas épocas em que os santos e anjos fazem abertamente milagres, os feiticeiros e diabos fazem, por
sua vez, maravilhas e prodígios.
È a rivalidade que, muitas vezes, faz o sucesso; sempre se acha apoio no que resiste.


5 - OS ENAMORADOS ASPECTOS DO RITUAL em ELIPHAS LEVI
CAPÍTULO VI
O MÉDIUM E O MEDIADOR
Dissemos que para adquirir o poder mágico são necessárias duas coisas: desembaraçar a vontade de
toda servidão e exercê-la à dominação.
A vontade soberana é representada nos nossos símbolos pela mulher que esmaga a cabeça da
serpente, e pelo anjo radiante que reprime e contém o dragão embaixo do seu pé e da sua lança.
Declaremos aqui, sem rodeios, que o grande agente mágico, a dupla corrente de luz, o fogo vivo e
astral da terra, foi figurado pela serpente de cabeça de touro, de bode ou de cão, nas antigas
teogonias. É a dupla serpente do caduceu, é a antiga serpente do Gênese; mas é também a serpente
de zinco e Moisés, entrelaçada ao redor do tau, isto é, do ligham gerador; é também o bode o Sabbat
e o Baphomet dos Templários; é o Hyle dos Gnósticos; é a dupla cauda da serpente que forma as
pernas do galo solar dos Abraxas; é, enfim, o diabo do Sr. Eudes de Mirville, e é realmente a força
cega que as almas têm de vencer para libertar-se das cadeias da terra; porque, se a sua vontade as
não separar desta imantação fatal, serão absorvidas na corrente pela força que as produziu, e
voltarão ao fogo central e eterno.
Toda obra mágica consiste, pois, em desembaraçar-se dos anéis da antiga serpente, e depois pôr o pé
na cabeça dela e guiá-la aonde se quiser. “Eu te darei – diz ela, no mito evangélico – todos os reinos da terra se te ajoelhares e me adorares”. O iniciado deve responder-lhe: “Não me ajoelharei, e tu te arrastarás aos meus pés; nada me dará, mas servir-me-ei de ti e tomarei o que quiser: porque sou teu senhor e dominador!” Resposta que está compreendida, mas oculta, na que lhe fez o Salvador!
Já dissemos que o diabo não é uma pessoa. É uma força desviada, como, aliás, seu nome indica.
Uma corrente ódica ou magnética, formada por uma cadeia de vontades perversas, constitui este mau espírito, que o evangelho chama legião e, que precipita os porcos ao mar: nova alegoria do
arrastamento dos seres baixamente instintivos pelas forças cegas que pode por em movimento a má
vontade e o erro.
Podemos comparar este símbolo ao dos companheiros de Ulisses, transformados em porcos pela
maga Circe.
Ora, vede o que faz Ulisses para se preservar a si próprio e libertar seus companheiros: recusa o
copo da encantadora e lhe ordena com a espada. Circe é a natureza com todas as suas volúpias e
atrativos; para gozar dela, é preciso vencê-la: tal é o sentido da fábula homérica, porque os poemas de Homero, verdadeiros livros sagrados da antiga Helênia, contêm todos os mistérios das altas iniciações do Oriente.
O médium natural é, pois, a serpente, sempre ativa e sedutora das vontades preguiçosas, à qual é
preciso resistir sempre, dominando-a.
Um mago apaixonado, um mago guloso, um mago colérico, um mago preguiçoso são
monstruosidades impossíveis. O mago pensa e quer, nada ama com desejo, nada repele com paixão;
a palavra paixão representa um estado passivo, e o mago é sempre ativo e vitorioso. O mais difícil, nas altas ciências, é chegar à realização disto; por isso, quando o mago criou a si próprio, a grande obra está realizada, ao menos no seu instrumento e da sua causa.
O grande agente ou mediador natural da onipotência humana só pode ser subjugado e dirigido por
um mediador extranatural, que é uma vontade livre. Arquimedes pedia um ponto de apoio fora do
mundo para levantar o mundo. O ponto de apoio do mago é a pedra cúbica intelectual, a pedra
filosofal de Azoth isto é, o dogma da absoluta razão e das harmonias universais pela simpatia dos
contrários.
Um dos nossos escritores mais fecundos e menos fixos nas suas idéias, Eugênio Sue, compôs uma epopéia romanesca completa sobre uma individualidade que se esforça em se fazer odiosa e que se
torna interessante a seu pesar, tanto ele lhe dá força, paciência, ousadia, inteligência e gênio! Trata se de uma espécie de Sixto Quinto, pobre, sóbrio, sem ódio, que tem o mundo inteiro preso nas
malhas das suas combinações.
Este homem excita à vontade as paixões dos seus adversários, destrói-os uns pelos outros, chega
sempre aonde quer chegar, e isto sem alarde, sem brilho, sem charlatanismo. O seu fim é libertar o
mundo de uma sociedade que o autor do livro crê perigosa e perversa, e, para isso, nada lhe custa:
dorme em maus quartos, está mal vestido, alimenta-se como o último dos pobres, mas está sempre
atento à sua obra. O autor, para ficar na sua idéia, o representa pobre, sujo, feio, nojento ao tato, horrível à vista. Mas, se até este exterior é um meio de disfarçar a ação e de chegar mais
seguramente, não é a prova de uma coragem sublime?
Quando Rodin for papa, pensai vós que ficará ainda mal vestido e sujo? Eugênio Sue errou o seu
alvo; quer atacar o fanatismo e a superstição, e une-se à inteligência, à força, ao gênio, a todas as grandes virtudes humanas! Se houvesse muitos Rodins entre os jesuítas, até se houvesse um só, não daria muito grandes coisas ao partido contrário, apesar das brilhantes e incorretas defesas dos seus ilustres advogados.
Querer bem, querer longo tempo, querer sempre, tal é o segredo da força; e é este arcano mágico
que Tasso põe em ação na pessoa dos dois cavaleiros que vêm libertar Renato e destruir os
encantamentos de Armida. Resistem tão bem às ninfas mais encantadoras como os animais ferozes
mais terríveis; ficam sem desejos e sem temor, e chegam a seu fim.
Resulta disso que um verdadeiro mago é mais temível do que amável. Não discordo disso, e,
reconhecendo perfeitamente quanto são agradáveis as seduções da vida, fazendo justiça ao gênio
gracioso de Anacreonte e a toda a florescência juvenil da poesia dos amores, convido seriamente os
estimáveis amigos do prazer a considerar as altas ciências só como um objeto de curiosidade, mas a nunca se aproximar da trípode mágica: as grandes obras da ciência são mortais à volúpia.
O homem que se libertou da cadeia dos instintos perceberá primeiramente a sua onipotência pela
submissão dos animais. A história de Daniel na cova dos leões não é uma fábula, e mais de uma vez, durante as perseguições do cristianismo nascente, este fenômeno se renovou em presença de
todo o povo romano. Raramente um homem tem alguma coisa a recear de um animal do qual não
tem medo. As balas de Gerard, o matador de leões, são mágicas e inteligentes. Somente uma vez
correu um verdadeiro perigo: tinha deixado ir consigo um companheiro que teve medo, e então,
considerando este imprudente como perdido adiantadamente, teve medo também, mas pelo seu
companheiro.
Muitas pessoas dirão que é difícil e até impossível chegar a uma resolução semelhante, que a força
de vontade e a energia do caráter, são dons da natureza, etc. Não discordo disto, mas reconheço
também que o hábito pode refazer a natureza; a vontade pode ser aperfeiçoada pela educação e,
como disse, todo cerimonial mágico, semelhante, neste ponto, ao cerimonial religioso, só tem por
objetivo experimentar, exercitar e habituar, assim, a vontade à perseverança e à força. Quanto mais
as práticas são difíceis e humilhantes, tanto mais têm efeitos; agora deveis compreendê-lo.
Se até o presente foi impossível dirigir os fenômenos do magnetismo é que ainda não se achou
magnetizador iniciado e verdadeiramente livre. Quem pode, com efeito, vangloriar-se de o ser? E
não temos sempre de fazer novos esforços sobre nós mesmos? Todavia, é certo que a natureza
obedecerá ao sinal e à palavra daquele que se sentir assaz forte para não duvidar. Digo que a natureza obedecerá, não digo que ela se desmentirá ou perturbará a ordem das suas possibilidades.
As curas das doenças nervosas por uma palavra, um sopro ou um contato; as ressurreições em certos
casos; a resistência às vontades mais capazes de desarmar e derrubar os assassinos; até a faculdade
de se fazer invisível, perturbando a vista daqueles aos quais é importante escapar: tudo isto é um
efeito natural da projeção ou do afastamento da luz astral. É por isso que Valente ficou ofuscado e
aterrorizado, ao entrar no templo de Cesaréia, como outrora Heliodoro, fulminado por uma
demência súbita no templo de Jerusalém, acreditou ter sido enxovalhado e pisado por anjos.
É por isso que o almirante Coligny impôs respeito aos seus assassinos, e só pôde ser morto por um homem furioso que se lançou sobre ele, perdendo a razão. O que fazia Joana d’Arc sempre vitoriosa
era o prestígio da sua fé, a maravilhosidade da sua audácia; ela paralisava os braços que queriam
feri-la, e os ingleses puderam seriamente crê-la maga ou feiticeira. Ela era, com efeito, maga sem o saber, porque acreditava que agia de modo sobrenatural, ao passo que dispunha de uma força oculta, universal e sempre submissa às mesmas leis.
O magista magnetizador deve governar ao médium natural, e, por conseguinte, ao corpo astral que
faz comunicar a nossa alma com os nossos órgãos; pode dizer ao corpo material: - “Dormi!” e ao
corpo sideral: - “Sonhai!” Então as coisas visíveis mudam de aspecto como nas visões do haschich.
Cagliostro possuía, dizem, este poder, e ajudava a sua ação por fumigações e perfumes; mas o
verdadeiro poder magnético deve abster-se desses auxiliares mais ou menos venenosos para a razão
e nocivos à saúde. O Sr. Ragon, na sua sábia obra sobre a maçonaria oculta, dá a receita de uma
série de medicamentos próprios para exaltar o sonambulismo. É um conhecimento que, sem dúvida,
não é para ser rejeitado, mas de que os magistas prudentes devem abster-se de fazer uso.
A luz astral projeta-se pelo olhar, pela voz, pelos polegares e a palma da mão. A música é um
poderoso auxiliar da voz, e daí provem a palavra encantamento. Nenhum instrumento de música é
mais encantador que a voz humana, mas os sons longínquos do violino ou da harmônica podem aumentar o seu poder. Prepara-se assim o paciente que se quer submeter; depois, quando estiver
meio adormecido e como que envolto por este encanto, estende-se a mão para ele e ordena-se-lhe
dormir ou ver, e ele obedece contra a sua vontade. Se resistir, é preciso, olhando-o fixamente, pôr
um polegar na sua fronte entre os olhos, e o outro polegar no seu peito, tocando-o levemente com
um único e rápido contato; depois aspirar lentamente e expirar brandamente um sopro quente, e lhe
repetir em voz baixa: - Dormi ou Vede.

por Crowley
VI.  OS AMANTES  (OU  OS IRMÃOS)
Esta carta e sua gêmea, XIV (Arte), são os mais obscuros e difíceis dos Atu. Cada um destes símbolos é em si mesmo duplo, de modo que os significados formam uma série divergente e a integração da carta só pode ser reconquistada mediante casamentos e identificações reiterados, e alguma forma de hermafroditismo. 
E, no entanto, a atribuição é a essência da simplicidade. O Atu VI se refere a  Gêmeos, regido por Mercúrio. A letra hebraica correspondente é Zain, que significa espada, e a estrutura da carta é portanto o arco de Espadas abaixo do qual o casamento real acontece. 
A espada é primeiramente um engenho de divisão. No mundo intelectual - que é o mundo do naipe de Espadas - ela representa análise. Esta carta e o Atu XIV juntos compõem a máxima alquímica abrangente: Solve et coagula. 
Esta carta é, por conseguinte,  uma das mais fundamentais do Tarô. É a primeira carta na qual mais de uma figura aparece (o macaco de Thoth no Atu I é apenas uma sombra). Em sua forma original, foi a história da Criação. 
Acrescemos aqui, em função de seu interesse histórico, a descrição desta carta em sua forma primitiva, o que é extraído de Liber 418. 
“Há uma lenda assíria de uma mulher com um peixe e há também uma lenda de Eva e a Serpente, pois Caim era o filho de Eva e a Serpente, e não de Eva e Adão; e, portanto, quando ele assassinara seu irmão, que foi o primeiro assassino por ter sacrificado coisas vivas ao seu demônio, Caim recebeu a marca em sua fronte, que é a marca da Besta referida no Apocalipse e o sinal da iniciação.
“O derramamento de sangue é necessário pois Deus não ouviu os filhos de Eva até que o sangue fosse derramado. E isto é religião externa; mas Caim não falou a Deus nem recebeu a marca de iniciação sobre sua fronte, de sorte que fosse evitado por todos os homens, até que tivesse derramado sangue. E este sangue foi o sangue de seu irmão. Este é um mistério da sexta chave do Tarô, que não deve ser chamada de Os Amantes, mas sim Os Irmãos. 
“No meio da carta posta-se Caim; em sua mão direita está o martelo de Thor com o qual ele assassinara seu irmão, e está todo tinto de seu sangue. Sua mão esquerda ele mantém aberta como um sinal de inocência. Sobre sua mão direita está sua mãe Eva, ao redor da qual a serpente se enrosca com seu capelo desdobrado atrás da cabeça dela, e sobre sua mão esquerda encontra-se uma figura um tanto semelhante a Kali indiana, mas muito mais sedutora. Todavia, eu sei que é Lilith. E acima dele está o Grande Sigillum da Seta, voltado para baixo, atingindo o coração da criança. Esta criança é também Abel. E o significado desta parte da carta é obscuro, mas este é o desenho correto da carta do Tarô; e esta é a fábula mágica correta da qual os escribas hebreus, que não eram iniciados completos, furtaram sua lenda da Queda e os eventos subseqüentes.”
É bastante significativo que quase toda sentença deste trecho parece inverter o significado da anterior. Isto é porque a reação é sempre igual e oposta à ação. Esta equação é, ou deveria ser, simultânea no mundo intelectual, onde não existe grande retardamento de tempo; a formulação de qualquer idéia cria sua contraditória quase no mesmo momento. A contraditória de qualquer proposição está implícita nela mesma. Isto é necessário para preservar o equilíbrio do universo. A teoria foi explicada na exposição sobre o Atu I, O Prestidigitador, mas faz-se mister que seja agora enfatizada a fim de se interpretar esta carta. 
A chave é que a carta representa a Criação do Mundo. Os hierarcas mantinham este segredo como de transcendente importância. Conseqüentemente, os iniciados que publicaram o Tarô para uso durante o Aeon de Osíris substituíram a carta original acima descrita em  The Vision and the Voice. Estavam interessados em criar um novo universo próprio; eles eram os pais da Ciência. Seus métodos de trabalho, agrupados sob o termo genérico de alquimia, jamais foram tornados públicos. O ponto interessante é que todos os desenvolvimentos da ciência moderna nos últimos cinqüenta anos têm proporcionado às pessoas inteligentes e instruídas a oportunidade de refletir que toda a tendência da ciência tem sido retornar aos objetivos e mutatis mutandis aos métodos alquímicos. O segredo observado pelos alquimistas tornou-se necessário devido ao poder de perseguição de Igrejas. Tão amargamente quanto os beatos intolerantes lutavam entre si, eles estavam igualmente preocupados em destruir a ciência infante, a qual, como reconheciam instintivamente, colocaria um fim na ignorância e na fé das quais dependiam o poder e a riqueza deles. 
O assunto desta carta é a análise, seguida pela síntese. A primeira pergunta feita pela ciência é: “Do que são compostas as coisas ? “ Respondida esta pergunta, a seguinte pergunta é: “ Como iremos recombiná-las para o nosso máximo proveito ?” Isto resume toda a política do Tarô. 
A figura encapuzada que ocupa o centro da carta é uma outra forma de O Eremita, o qual é elucidado na seqüência no Atu IX. Ele próprio é uma forma do deus Mercúrio descrito no Atu I; ele está rigorosamente encoberto, como para significar que a razão última das coisas está num domínio além da manifestação e do intelecto (como explicado alhures, apenas duas operações são, no final das contas, possíveis: análise e síntese). Ele está de pé no sinal do entrante, como se projetando as forças misteriosas da criação. Ao redor de seus braços se acha um rolo de pergaminho, indicativo da Palavra que é semelhante à essência e mensagem dele. Mas o sinal do entrante é também o sinal da bênção e da consagração, de maneira que sua ação nesta carta é a celebração do casamento hermético. Atrás dele estão as figuras de Eva, Lilith  e Cupido. Este simbolismo foi incorporado para preservar em alguma medida a forma original da carta e mostrar sua origem, sua herança e sua continuidade com o passado. Na aljava de Cupido está inscrita a palavra  Thelema que é a Palavra da Lei (ver Liber AL, cap. I, versículo 39). Suas setas são quanta de Vontade. É assim indicado que esta fórmula  fundamental de operação mágica, análise e síntese persiste através dos Aeons. 
Podemos passar  agora a considerar o  próprio casamento hermético. 
Esta parte da carta é uma simplificação de o Casamento Químico de Christian Rosenkreutz, uma obra prima excessivamente extensa e prolixa para ser citada proveitosamente aqui. Mas a essência da análise é a gangorra contínua de idéias contraditórias. É um glifo da dualidade. As pessoas da realeza envolvidas são o rei negro ou mouro com uma coroa de ouro e a rainha branca com uma coroa de prata. Ele está acompanhado do leão vermelho, e ela da águia branca. Estes são símbolos dos princípios masculino e feminino na natureza; são, portanto, igualmente, em vários estágios da manifestação Sol e Lua, Fogo e Água, Ar e Terra. Em química eles se apresentam como ácido e álcali, ou (mais profundamente) metais e não-metais, tomando-se estas palavras em seu mais lato sentido filosófico a fim de incluir o hidrogênio por um lado e o oxigênio, por outro. Neste aspecto, a figura encapuzada representa o elemento protéico do carbono, a semente de toda a vida orgânica. 
O simbolismo do masculino e o feminino é continuado ainda pelas armas do rei e da rainha. Ele porta a Lança Sagrada e ela, o Cálice Sagrado; as outras mãos deles estão unidas, como que consentindo com o casamento. Suas armas são apoiadas por crianças gêmeas, cujas posições estão trocadas, pois a criança branca não só oferece apoio ao cálice como também carrega rosas, enquanto que a criança negra, segurando a lança de seu pai, carrega também o porrete, um símbolo equivalente. Na base do conjunto está o resultado do casamento sob forma primitiva e pantomórfica: o ovo órfico alado. Este ovo representa a essência de toda essa vida sujeita a esta fórmula do masculino e feminino. Prossegue o simbolismo das serpentes com as quais o manto do rei está ornamentado,  e das abelhas que adornam o manto da rainha. O ovo é cinza, misturando branco e preto, de modo a significar a cooperação das três Superiores da Árvore da Vida. A cor da serpente é púrpura, Mercúrio na escala da rainha. É  a influência desse deus manifestada na natureza, enquanto que as asas têm cor carmesim, a cor (na escala do rei) de Binah, a Grande Mãe. Neste símbolo existe, portanto, um glifo completo do equilíbrio necessário ao começo da Grande Obra. Mas, no que concerne ao mistério final, isto é deixado sem solução. Perfeito é o plano para produzir a vida, porém a natureza desta vida é ocultada. É capaz de assumir qualquer forma possível, mas qual forma ? Isto depende das influências presentes na gestação. 
A figura no ar apresenta certa dificuldade. A interpretação tradicional diz que se trata de Cupido, e não fica claro, a princípio, o que Cupido tem a ver com Gêmeos. Nenhuma luz é lançada sobre este ponto ao considerar-se a posição do caminho na  Árvore da Vida, pois Gêmeos conduz de Binah a Tiphareth. E aí, conseqüentemente, se levanta toda a questão de Cupido. Os deuses romanos geralmente representam um aspecto mais material dos deuses gregos dos quais são derivados, neste caso, Eros. Eros é o filho de Afrodite e a tradição diverge quanto a seu pai ser Ares, Zeus ou Hermes, quer dizer, Marte, Júpiter ou Mercúrio. Sua aparência nesta carta sugere que Hermes seja o verdadeiro progenitor e este parecer é confirmado pelo fato de não ser em absoluto fácil distingui-lo da criança Mercúrio pois eles têm em comum o desregramento, a  irresponsabilidade e o gosto por pregar peças. Mas nesta imagem existem características peculiares. Ele carrega um arco e flechas numa aljava dourada (é representado, por vezes, com uma tocha); tem asas douradas e está vendado. Daí pode parecer que ele representa a vontade inteligente (e, ao mesmo tempo, inconsciente) da alma de unir a si mesma com tudo e todos, como foi explicado na fórmula geral relativa à agonia da separação. 
Não se atribui importância muito especial em figuras alquímicas ao Cupido. Contudo, num certo sentido, ele é a fonte de toda a ação, a libido para expressar zero como dois. De um outro ponto de vista, é possível considerá-lo como o aspecto intelectual da influência de Binah sobre Tiphareth pois (em uma tradição) o título da carta é  “Os Crianças da Voz, o Oráculo dos Deuses Poderosos”. Deste ponto de vista, ele é um símbolo da inspiração, descendo sobre a figura encapuzada, que é, neste caso, um profeta que opera a união do rei e a rainha. Sua flecha representa a inteligência espiritual necessária nas operações alquímicas, mais do que a mera fome de executá-las. Por outro
lado, a flecha é peculiarmente um símbolo de direção, e é, portanto, apropriado colocar a palavra Thelema em letras gregas sobre a aljava. Deve-se também observar que a carta contraposta, Sagitário, * significa Aquele que porta a Flecha, ou o Arqueiro, uma figura que não aparece sob forma alguma no Atu XIV. Estas duas cartas são tão complementares que não podem ser estudadas isoladamente para completa interpretação.